quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Parem de Maniçobar Belém!

Entre uma pesquisa e outra minha esposa encontrou esse texto na web e encaminhou para meu email, após sua leitura resolvi compartilhar o mesmo com vocês. O texto aseguir é de Anderson Araújo (Jornalista / twitter: @andersonjor).

Parem de Maniçobar Belém!
Não precisa espalhar que me ama. Nem me dar presentes caros. Não é necessário contratar um carro-som enfeitado com balões para berrar suas loucuras de amor. Nem se emperiquitar toda para me ver. Muito menos arrotar em rodinhas de conhecidos que eu sou um deus, um louco, um feiticeiro ou que eu sou demais. Não precisa nada disso. Apenas me trate bem. Veja que é um preceito simples, porém, ao mesmo tempo, cheio de nuances.

Não, não estou mandando uma indireta para uma pretensa namorada, peguete, paquera (sim, sou do tempo da paquera) ou coisa que o valha. Apenas lanço a idéia que pode bem ser usada para qualquer ser vivo ou qualquer coisa que alimentamos o mínimo de afeto, nem que seja aquele mais modesto, mais chinfrim, mais baratinho, de R$ 1,99. Serve inclusive para uma das maiores musas dos nossos corações, ironicamente uma das mais avacalhadas também pelos mesmos alucinados por esse amor: Belém.

Belém já foi cantada e recantada em prosa e verso. Não será nunca por palavras bonitas e elogios rasgados que a morena vai se amofinar. Nisso está bem servida. Tem loas até dos grandes poetas que nem daqui são e está versada e bem falada por todo tipo de gente que nela aporta: turistas, jornalistas, cientistas, artistas e até trambiqueiros avulsos que, desavisados, acabam bestificados com a cidade. Porém perceba que entre o ato e o fato há uma distância bem maior do que a do Leme ao Pontal. Um vácuo enorme entre o que de diz e o que se faz.

Peninha escreveu e Caetano se requebrou todo cantando o que todo mundo sabe: quando a gente ama é claro que a gente cuida. Portanto, mais vale um afago bem dado do que um eu te amo meia-boca. E, coitada, Belém merece esse amasso do bom sem perder a ternura, é claro. É muita gente cantando, elogiando e amando e pouca gente chegando junto, de fato, para dar aquele trato com o cuidado merecido.

Sempre comparo a cidade com uma mulher e, se mulher fosse, Belém estaria sendo alvo do que chamo de "maniçobagem". Sim, meus caros, maniçobar é o verbo que remete a uma das nossas comidas típicas preferidas, a maniçoba, a qual para ficar no ponto leva dias e dias no fogo, cozinhando. Quem quer maniçobar uma cabrocha canta, elogia, gasta todo o repertório das palavras mais amáveis e doces e fica pura e simplesmente só nessa conversa mole, nesse cozinhar sem fim, sem nunca chegar à demonstrações reais desse afeto todo.

É justamente essa discrepância entre o que se fala sobre e que faz com Belém que desagrada e move nossos relógios para trás, em direção ao fantasma do atraso. Não é difícil testemunhar os abastados dizendo que amam a arquitetura portuguesa dos nossos palacetes e, por baixo dos panos, destelharem os casarios da Cidade Velha para que desmoronem o mais rápido possível e, assim, nasça um novo imóvel, novinho, novinho, sem a "dor de cabeça" e a trabalheira de pertencer ao patrimônio histórico da cidade.

Claro, o ricaço falando bem da cidade e lapidando o próprio patrimônio para se dar bem mais adiante é apenas um exemplo do que a boca fala e a ato desmente. Há empresas também gastando seu precioso dinheirinho com o tal marketing social, estampando fotos da cidade, das frutas, dos caboclos, da poesia toda que rola na beira dos nossos rios, porém, no breu das tocas, na surdina, no sapatinho, estão de mãos dadas com a sonegação de impostos e ações que se chamadas de "danosas para a cidade" vão parecer um elogio perto do mal que estão fazendo para os manos, as minas e o baile todo.

São exemplos robustos, de peixes grandes, mas há os menores e cotidianos feitos por todos nós, consciente ou inconscientemente. Já vi gente dizendo "Belém é linda" e atirando um coco de dentro do carrão em via pública. Sem contar outras pérolas da incivilidade que fazem da nossa morena um local cada vez mais insuportável de se viver e cada vez mais com a descrição da pequena província, sem rumo, sem lei, sem arte, entregue nas mãos de poucos e vilipendiada por todos.

Dentre tantas, as barbeiragens diárias, anote aí a pressa sem necessidade e a absoluta falta de consideração com o próximo, bestialidades testemunhadas e reladas todos os dias por quem se arrisca no trânsito/caos belenense. São pequenas bordoadas que vão da pichação do semi-analfabeto em busca de expressão e algum reconhecimento nos muros até a abertura de bares sem garçons suficientes para oferecer um bom atendimento e engrossar a fama da capital paraense de péssimos serviços.

Está na hora de reduzir o lari-lari, de deixar a comoção um pouco de lado com "põe tapioca, põe farinha d?água, põe açúcar, não põe nada..." e reduzir a identificação coitadinhesca na hora do "isso é Belém, isso é Pará, isso é Brasiiiiiiil". Vamos dar um tempo na maniçobagem e ter uma atitude mais honesta com esse amor todo que consta nos astros, nos signos, nos búzios, e todo mundo se rasga berrando aos quatro cantos.

A mangueirosa está bem servida de poetas baratos e muito mal servida de amantes de verdade. E cansada, muito cansada disso tudo. Como toda mulher, ela já dá sinais claros de que o tal latinório romântico exauriu faz tempo e começa a movimentar a operação "Despinte". Ah, não sabe o que é despinte? Nunca te deram esperanças de romance e uma relação tranquila e depois nem sequer ligaram para saber como você estava? Nunca te deixaram falando sozinho? Pois então. Abre o olho, Mané.